terça-feira, 30 de junho de 2015

12


Karina acordou com frio aquela manhã. Ela se embolou nos lençóis, ficando quase descoberta. O tempo estava, como sempre, nublado. Pedro não estava mais lá. Ela se levantou, tomou um bom banho quente, escovou os dentes, penteou os cabelos. Estava terminando o ultimo, quando ouviu duas batidinhas leves na porta.


Karina: Pode entrar, Rosa. - Disse sem dar atenção, sentada no banquinho da penteadeira, de costas pra porta, escovando os cabelos. A porta se abriu lentamente.


Cobra: Se não for a Rosa, pode entrar também? - Ele sorriu olhando ela, enquanto fechava a porta atrás de si.


Estou pensando em você
Hoje à noite em minha solidão insone ♫


Karina empedrou olhando o reflexo do espelho. Seu coração disparou gostosamente.

Karina: COBRA! - Gritou se levantando, derrubando o banquinho.


Karina correu e se atirou nos braços dele, que a agarrou. Ela se sentia inteira novamente, abraçada a aquela escultura de pedra. Ele também havia sentido falta dela. Mais do que devia ter sentido, ele sabia disso. Ergueu ela e rodopiou no ar. Era como se estivesse asfixiando enquanto estava fora, e o perfume leve dela lhe devolvesse o fôlego. Karina encheu o rosto dele de beijinhos. Estava fora de controle, de tão feliz. Quando ele a pôs no chão, o que fez não foi solta-la, e sim abraça-la mais forte. Palavras não eram necessárias ali.


Se é errado amar você
Então meu coração não vai deixar agir certo
Porque me afoguei em você
E não sobreviverei
Sem você do meu lado ♫


Karina: Me dê um bom motivo pra eu não matar você agora. - Rosnou um tempo depois. Cobra riu.


Cobra: Bom, eu tenho um presente. - Disse sorrindo pra ela, puxando sua mão, enlaçada com a dela, puxando-a pro corredor.


Karina: Isso é um tipo de tentativa de me comprar? - Ergueu a sobrancelha, mas apertou os dedos nos dele. Cobra riu.

Cobra: Não, esse foi o motivo por eu ter demorado. - Explicou, virando-se rapidamente e assustando ela. Ele a abraçou e ergueu-a do chão, descendo as escadas. Karina riu abraçada a ele.

Eu daria tudo de mim para ter
Só mais uma noite com você ♫


Karina: Posso saber que tipo de presente é? - Ela olhou pra ele, duvidosa. Cobra não era do tipo de Pedro, que dava joias extravagantes. Cobra tapou os olhos dela com as mãos frias.


Cobra: Sabe montar? - Perguntou, com um sorriso torto ao passar com ela pela porta. Ele soltou o rosto dela.


A inicio Karina cerrou os olhos. A claridade do dia lhe machucou um pouco. Depois se tocou do que era. Ao lado do garanhão preto de Cobra havia um cavalo, um cavalo branco, alvo. Enquanto o cavalo dele era negro como breu, o de Karina era o mais branco possível, chegava a machucar a visão. Ela deu dois passos a frente, ainda sem acreditar.


Eu arriscaria minha vida para ter
Seu corpo junto ao meu ♫


Karina: Que tipo de pessoa dá um cavalo de presente a outra? - Murmurou, descendo as escadarias, encantada com o presente.


Cobra: Eu sou um tipo diferente. - Sorriu olhando-a ir até o cavalo. Quando ela ergueu a mão, o cavalo abaixou um pouco a cabeça, recebendo o carinho. Ao ver o sorriso de Karina, Cobra percebeu que o tempo longe dela foi valeu a pena. - Quer dar uma volta?


Karina: Se você conseguir me alcançar, tudo bem. - Ela sorriu e pôs o pé em cima da sela do cavalo, montando, e disparando pelos jardins em seguida.


Karina se sentia viva. Seu cavalo parecia ter sido feito pra ela. Quando olhou pra trás, viu Cobra, aos risos, subir em seu cavalo e ir em sua direção. Em pouco tempo ele a alcançou, e os dois estavam completos novamente. Porque era ali que queriam estar, mesmo que tudo gritasse que não. Karina e Cobra cavalgaram pelo que pareceram horas. Só pararam quando a chuva os interrompeu. Cobra alertou-a, mas Karina continuou, rindo. Apenas quando seu vestido se tornou pesado demais de agua pra continuar, eles pararam em baixo de uma arvore imensa, ambos pingando agua. O cabelo de Cobra, que sempre era alfinetado pra todos os lados, agora estava bagunçado e pingando agua.


Cobra: Eu avisei. - Disse ao ver Karina batendo os dentes de frio. Ela riu. - Tome. - Ele tirou o terno


Karina: N-n-ão está muito menos molhado que o vestido. - Disse e riu da cara que Cobra fez, erguendo o terno molhado e encarando


Cobra: Nada que não se possa resolver. - Ele torceu o terno, que despejou agua pelo chão


Karina: Não vai servir mais. - Reclamou. O terno, quando secasse, estaria semelhante a um pano de chão.


Cobra: Pro diabo com o terno, tome. - Ele passou o terno quase húmido pelo ombro dela, que se abraçou.


Karina: V-v-você vai f-f-ficar d-d-doente. - Resmungou, tentando devolver a roupa


Cobra: Acredite, eu não vou. - Ele sorriu, radiante. - Vamos embora. - Ele disse, olhando a chuva


Karina: Assim? S-s-s-onhe. - Ela riu, sarcástica.


Cobra: Vai piorar. E muito. - Disse, olhando o céu. - É melhor que estejamos em casa a essa altura. - Ele puxou ela pela mão, lançando-os na chuva de novo.


Karina se surpreendeu quando Cobra a puxou pela cintura, a ergueu e pôs em cima de seu cavalo, sentada de lado. A chuva parecia ser derrubada por baldes. Ele montou atrás dela, fez um gesto com a boca e chamou o cavalo dela, disparando em seguida. O cavalo, como se entendesse, acompanhou Jake.
Em movimento era muito pior. O vento parecia que ia congelar a espinha. Cobra riu quando Karina escondeu o rosto em seu pescoço, frio como sempre. Ela se perguntava como ele ainda estava vivo, perante a temperatura de seu corpo. A chuva agressiva que caia não permitiu aos dois ver, mas havia alguém olhando a cena da janela do segundo andar. E esse alguém não parecia nada satisfeito.

João: Bianca. - Bianca o encarou - A Karina te fala alguma coisa sobre o Cobra? - Perguntou, olhando enquanto Cobra descia do cavalo e puxava Karina. Os dois subiram as escadarias aos risos, e sumiram pela porta.

Bianca: Ela me conta que ele é amigo dela. E que ajuda ela com o Pedro. - Disse, tentando se lembrar de alguma coisa - Porque? - Ela abraçou o marido por trás, acariciando a barriga dele 


João: Nada demais. - Ele pôs a mão por cima dela - Só tenho um mal pressentimento em relação a isso. Besteira. - Disse enquanto um empregado aparecia na chuva e levava o cavalo de Cobra pro celeiro. - Huum, mas me diga, como estamos hoje? - Ele se virou pra ela, se agachando na altura de sua barriga, dando-lhe um beijo ali.


Bianca: Estamos bem, muito bem. - Sorriu, acariciando o cabelo dele. João falava com o filho, mesmo que ele praticamente não existisse. Bianca se sentia plena, feliz. João era tudo de melhor que ela podia esperar, e um pouco mais.

O mesmo Karina não podia dizer do marido. Ela se despediu brevemente de Cobra, e foi pro quarto, ensopada. Tirou o vestido, tomou um banho, se secou. Quando a chuva deu uma trégua, ela foi ao celeiro, queria ver seu cavalo. Não foi difícil encontra-lo. Era mais alvo do que qualquer coisa ao alcance da vista. Ela foi até ele, que pareceu feliz pela dona estar ali. Ela tirou ele da cela, levando-o pra um lugar um pouco mais aberto, debaixo de uma arvore. Pegou uma escova e um pano no celeiro e levou, junto com um banco.

-

Karina: Eu ainda não sei que nome te dar. - Ela disse ao cavalo, pensativa, enquanto escovava a crina do animal. Alguém havia tirado a lama das patas alvinhas do cavalo e secado, tanto ele, quanto o de Cobra - Hum... Seth? - O cavalo a olhou, como se gostasse - Pronto, Seth. - Sorriu, radiante, acariciando-o. Seth estava dócil aos carinhos da dona, se exibia pra ela quando ela o elogiava. Mas de repente, viu algo que o fez relinchar e trotar pra trás.

Pedro: Seu cavalo é um covarde. - Acusou, se aproximando da mulher. Karina se assustou.

Karina: Calma, Seth. - Ela acariciou o cavalo, acalmando-o. Pareceu funcionar. Mas o cavalo ainda encarava Pedro com um olhar hostil - Não há problema nenhum com ele. - Resmungou pra Pedro, enquanto voltava a escovar o animal.


Pedro: Não me lembro de ter comprado esse. - Disse, avaliando o cavalo. Seth pareceu incomodado.


Karina: Cobra me deu de presente, hoje. - Disse sem dar atenção. Karina estava de costas, por isso não viu o brilho raivoso que atingiu o olhar de Pedro enquanto ele avançava pra ela.

Pedro: Vai devolve-lo. - Ordenou, puxando o braço de Karina que o encarou, surpresa - Vai devolver hoje. Existem dezenas de cavalos nessa fazenda, centenas até, escolha um a seu gosto e ele será seu. Mas vai devolver esse.

Seth se ergueu nas patas da frente, relinchando alto. Pedro partiu pro cavalo, raivoso, mas Karina se pôs no meio.


Karina: Não vou devolver, não. - Disse, obstinada - Seth, calma. - Ela passou a mão na crina do cavalo


Pedro: É minha mulher, Karina. Me deve obediência. - Lembrou, frio.


Karina: E eu vou obedecer. - Disse, erguendo o queixo, digna. Pedro sorriu, debochado - Mas eu não vou devolver.


Pedro: Ah, vai me obedecer então. - Sorriu, puxando ela pelo braço pra si pela cintura. Karina arregalou os olhos, surpresa. - E se eu disser que eu quero te possuir aqui, nessa grama, agora. Você vai me obedecer? - Sorriu, duro.


Karina sentiu um choque levar seu corpo. Pedro viu, deleitado, esse choque passar pelo azul dos olhos dela enquanto ele fingia abrir o colete que usava, ainda mantendo-a colada a seu corpo.


Karina: Quê? - Grasnou, assustada. Não conseguiu evitar que seus olhos caíssem pra grama, verde e fofa. Pedro viu isso, e sorriu por dentro.


Pedro: Você disse que me obedeceria. Então, essa é a minha vontade. - Ele disse após terminar de abrir o colete, sorrindo malévolo, carregando ela e levando mais pra perto da arvore, pra longe do cavalo.


Karina: Pedro, pare com isso! - Ela disse, assustada, quando ele a deitou na grama, ficando de frente e tirando o colete. Pedro estava adorando aquilo. Amava tortura-la.


Pedro: Sabe, isso sempre foi uma fantasia minha. - Ele disse, abrindo um sorriso enquanto ia pra cima dela, que recuou, ruborizada - Está corando, Karina? - Perguntou segurando o rosto dela, olhando fascinado o que havia feito.


Karina: Pervertido! - Ela empurrou ele, recuando mais. Deu de costas com a arvore, batendo a cabeça no tronco da mesma. Pedro se estourou de rir, sentando no chão. Karina era tão absurda.

Ela aproveitou a distração dele e se levantou, disparando pra perto do cavalo. Sentia o sangue em seu rosto enquanto ignorava o riso dele.

Pedro: Hey, volte aqui. - Chamou, debochado - Eu nem comecei ainda, qual o seu problema? - Ele riu de novo


Karina: Escuta aqui, você para com isso, ou eu vou rachar a sua cabeça no meio. - Ameaçou apontando a enorme escova do cavalo pra ele.


Pedro: E eu estou tremendo de medo de você, Karina. - Ele sorriu, debochado - Acredite, se eu quisesse te ter aqui, você seria minha aqui. - Ele tocou na grama do seu lado.


Isso irritou Karina profundamente. Quem ele achava que era? Ou melhor, quem ele achava que ela era?


Karina: Eu tenho pena de você, Pedro. - Disse, amarga


Pedro: Ah, pena. - Ele disse, se apoiando nas mãos. Karina não queria admitir mas ele estava lindo, sem o terno ou o colete, apenas com aquela camisa branca, sentado na grama. - Não vejo porque. - Ele fingiu estar pensando - Bom, eu sou rico, respeitado. Minha esposa arranca suspiros por onde passa. - Ele varreu o corpo dela com o olhar, Karina ruborizou barbaramente ao perceber isso - Sou saudável. Tenho tudo o que o dinheiro pode comprar, do bom e do melhor. - Ele se avaliou, duro.


Karina: Não tem amor. - Ela viu o sorriso dele morrer - É, Pedro. Amor não pode ser comprado com dinheiro, ou com joias bonitas. Tenho pena porque você nunca sentiu amor, ou amizade. E isso, eu te garanto, dinheiro nenhum pode comprar. - Ela concluiu, fria - Esse é o seu problema, falta de amor. Eu tentei amar você, mas você faz disso uma tarefa impossível. Você nunca sentiu, você não sabe o que é. - Ela sorriu, dura.

Pedro: Você não sabe o que diz. - Murmurou por entre os dentes, encarando-a. Karina parecia ter passado pela armadura dele.

Karina: Pense nisso, Pedro. Amor. - Ela disse enquanto jogava a escova em cima do banquinho - E fique longe do meu cavalo. - Avisou antes de sair, com o máximo de dignidade que tinha, levando Seth. Pedro a encarou se afastar. Sua expressão era séria, dura, mas o verde dos seus olhos estava inundado por uma dor que a muito tempo ele não sentia.



Comentem Gattonas.


Creditos: Samilla Dias


segunda-feira, 22 de junho de 2015

11


Karina acordou cedo na manhã seguinte. Se banhou e se vestiu enquanto Pedro ainda dormia. Só veio reparar o rosa escuro do vestido depois que o vestiu. Odiava rosa, mas não o trocaria, não depois de todo o trabalho. 


Rosa: Acordou cedo, senhora. - Disse ao ver Karina entrar na sala, enquanto ainda colocava a mesa - A mesa está quase pronta.


Karina: Está tudo bem, não estou com fome. - Ela torceu as mãos, olhando pela porta, ansiosa - Rosa, Cobra voltou durante a noite? 


Rosa: Não, senhora.


Karina: Ah, Deus. - Ela suspirou, jogando a cabeça pra trás. Nessa hora ouviram-se cavalos parando na frente da mansão. Karina disparou desembestada pra porta, ficando em choque ao olhar pra fora. - Meu Deus! - Ela pôs as mãos na boca. - Eu não acredito! - Ela deu dois passos pra frente –CARLOS EDUARDO! - Ela desceu a escadaria correndo e pulou nos braços do irmão, que sorria pra ela.


Ele abraçou a irmã, apertando-a entre os braços. Não via ela a 6 meses.


Duca: Laureline, que saudade de você. (Laureline era o como o Duca chamava Ka) - Ele beijou apertado a Buchecha da irmã.


Karina: Venha! - Ela sorriu abertamente, puxando o irmão pra dentro de casa. - Me espere aqui, vou buscar Bianca. - Sorriu radiante e disparou pra escada


Duca: Não caia. - Na mesma hora Karina tropeçou, segurando-se no corrimão da escada pra não cair. Ela resmungou alguma coisa e voltou a correr. Duca continuou de pé, ajeitando o terno, quando Pedro, já composto, entrou na sala - Bom dia. Desculpe ter vindo tão cedo, mas precisava ver a Karina. - Sorriu, desculpando-se.


Pedro: Bom dia. - Respondeu, calmo - Você é?


Duca: Carlos Eduardo, irmão dela. - Pedro estendeu a mão, e ele a apertou


Pedro: Sou Pedro, marido de Karina. - Ele viu o olhar de Duca endurecer - Agora, se não se importa em ficar só, eu tenho muito que fazer.


Duca: Não, sinta-se a vontade. - Pedro assentiu e saiu.


- No segundo andar


Karina: BIANCA DUARTE! - Ela batia com urgência na porta do quarto de Bianca e João.

João: Karina? 

Karina: Bom dia, João. Desculpe incomodar tão cedo. - Ela se dirigiu a Bianca - Bi, você não vai acreditar, mas o Duca está aqui! - Disse pulando nas pontas dos pés


Bianca: O QUÊ? - Karina assentiu, radiante - VAMOS! - Ela puxou a mão da irmã e ia disparando a fora


João: Bianca? 


Bianca: João, eu te amo, depois eu te explico. - Ela disse rapidamente, selando os lábios com os dele e saindo correndo com Karina em seu encalço. João riu.

Bianca: DUCA! - Ela se jogou nos braços do irmão, seguida por Karina. Duca cambaleou segurando as duas, rindo.

Karina e Bianca começaram a pular, histéricas. Duca ria das irmãs. Havia tempo que Karina não sentia essa felicidade, esse tipo de felicidade que a fazia arfar. GAel não avisou Duca do casamento de Karina, alegando que ele viera pro casamento de Bianca há muito pouco tempo, e que não deveria fazer viagens com tanta frequência, já que estava morando na Europa. Após passar o frisson da chegada, os três foram pra sala de estar, onde a conversa tomou um rumo menos alegre.


Duca: Porque não me avisou? Porque não mandou uma carta, eu não teria deixado. - Disse entredentes quando Karina lhe contou das circunstancias em que casara.


Karina: Papai avisou a todos os empregados pra que todas as cartas da casa passassem por ele antes de serem enviadas. Ele não queria que você viesse. - Ela disse, triste


Duca: Desse um jeito, demônios Karina, você não podia ter deixado isso acontecer. - Disse, irritado - Aliás, já conheci seu marido. - Karina ergueu os olhos, assustada.


Bianca: Papai a mataria, Duca, você o conhece. - Disse revirando os olhos


Karina: Conheceu Pedro? Quando? - Perguntou, ainda alarmada


Duca: Agora a pouco. Eu estava esperando você voltar com a Bianca.


Karina: Me diga a verdade, Duca, ele te tratou mal? - Perguntou, preocupada


Duca: Não, foi indiferente. - Karina suspirou, aliviada - Mas não gosto dele. Não gostei desde que o vi.


Karina: Eu tão pouco. - Sorriu, irônica


Bianca: Ka, não fale assim. Pedro é do jeito dele, mas aposto que gosta de você. Ou então não teria insistido tanto em casar. - Karina e Duca encararam ela, incrédulos - Só tô falando o que eu acho.


Duca: Como é o seu relacionamento com ele? - Perguntou, atencioso

Karina: Horrível. Não podíamos nos dar pior. Eu o odeio. - Tinha um fundo de verdade. Mas ódio não era o único sentimento que ela tinha por Pedro.

Bianca: Uma vez alguém disse que amor e ódio são duas faces de uma mesma moeda. - Disse, olhando as unhas.


Karina: Vou te descer a mão, Bianca Duarte. - Rosnou. Bianca riu.


Duca: Ele te maltrata? - Pressionou


Karina: Não posso mentir pra você. Nunca o fiz. - Ela suspirou, e puxou as mangas do vestido que usava. O dia estava frio, e por isso ninguém desconfiou. Mas quando ela ergueu as mangas, as enormes marcas, agora quase pretas, da violência de Pedro no dia anterior se mostraram - Isso responde a sua pergunta? - Perguntou, amargurada.


Duca parecia ter levado um tapa na cara. O sangue subiu ao seu rosto de modo perceptivo enquanto Karina colocava as mangas do vestido no lugar. Ele se ergueu com tudo, Karina arregalou os olhos.


Duca: Bianca, me diga onde ele está. - Ordenou, furioso


Bianca: E ser culpada por um assassinato? Não, obrigada. - Disse, alerta


Duca: Eu acho então. - Disparou pela sala, mas Karina foi mais rápida, correu e fechou a porta, se pondo na frente da fechadura - Saia da frente, Ka. - Era mais uma ordem que um pedido.


Karina: Duca, por Deus, não! - Duca não parecia ouvir - Bianca, ajuda! - Bianca se pôs entre os irmãos, socando Duca, tentando fazer ele recuar - Duca, não pode ser assim, eu sou a prova viva de que brigar com Pedro não ajuda em nada. Porfavor, não piore a minha situação. – Implorou

Duca parou de empurrar Bianca, e encarou Karina, arfante de ódio. Um tempo depois acenou raivoso com a cabeça e voltou ao seu lugar. Karina suspirou aliviada e todos voltaram a seus lugares.

Duca: Ka venha embora comigo. - Karina sentiu o coração pular desconfortavelmente - Eu vou voltar pra Europa em breve, fuja agora, você sabe que é capaz. Venha comigo. - Insistiu - Eu vou tirar você daqui. É só você vir comigo. - Pressionou, e Karina não sabia o que fazer. Estava confusa.

Bianca: Enlouqueceu, Carlos Eduardo? - Duca revirou os olhos

Karina: Eu não posso. - Ela disse automaticamente. Tinha certeza de não poder ir, e queria se matar por isso.


Duca: Porque não? - Perguntou, observando a irmã.


Karina: Cobra. - Respondeu, sentindo com o peito apertava de saudade ao ouvir o nome dele.



Duca não sabia sobre Cobra. Bianca tampouco. Karina explicou superficialmente, dizendo que Cobra lhe acolhera, e que era seu amigo. Não citou o chalé oculto nos confins da fazenda, nem do sentimento que nascia entre eles dois.

Karina: Duca, não! Eu não posso ir enquanto ele não voltar. - Ela se levantou, andando pela sala - Eu preciso dele. - Admitiu, se surpreendendo com a veracidade das palavras


Duca: Quando ele voltar, então. Eu posso esperar. - Disse olhando a irmã, suspeitando.


Karina estava considerando a ideia. Se fugisse da mansão se perderia definitivamente de TomTom, e de Cobra. Pra nunca mais. Seu coração protestava só de pensar nisso. Em não ver o sorriso dele novamente. Por outro lado, ela estaria livre de Pedro. Mas será que era isso que ela queria? "Você e Cobra são iguais. Duas crianças sempre reclamando de como a vida é injusta com vocês." - Karina inclinou a cabeça pra trás, suspirando fundo.


Karina: Ninguém pode fugir de Pedro, não se ele quer essa pessoa por perto. Ele vai me encontrar. Será pior. - Ela disse com a voz dura, se virando pros irmãos de novo. O rosto de Karina parecia ter empalidecido, como se a vida abandonasse a pele. Por um segundo, sua pele era semelhante a de Pedro. Mas logo a cor retornou. - Eu preciso ficar, Duca, me perdoe. Precisam de mim aqui. Cobra logo voltará, e as coisas melhorarão. Pedro é meu marido, é minha obrigação estar ao lado dele. - Se condenou, dura consigo mesma.

Duca: Porém, você sabe que sempre contará comigo. Uma carta, um bilhete, e eu estarei aqui. - Karina sorriu - Você pode mudar de ideia sempre que quiser. O que você acha, Bianca? - Perguntou a morena, que parecia que ia ter um colapso.

Bianca: O que eu acho? Sabe o que eu acho? - Ela ia avançando pro irmão. Duca se encolheu, fingindo medo. - Eu acho que eu estou grávida - Karina riu - E vocês vão me enlouquecer! 


Duca: Grávida? - Bianca assentiu, radiante. Esse filho era tudo o que ela podia pedir.


A partir dali o resto da manhã foi feliz. Duca falou sobre Naty, sua esposa. Bianca falou sobre o casamento com João, e de sua felicidade por estar grávida. Karina... Karina falou de Cobra, e de como ele lhe tranquilizava. Antes do almoço Duca foi embora. O dia passou normalmente. Com a saída de Duca, a angustia pela falta de Cobra retornou. Foi assim que Karina estava a noite, quando terminou de se arrumar pro jantar. 


Pedro: Petit, - Karina o encarou. Amava quando ele lhe chamava assim - Venha aqui. - Ela se sentou ao lado dele na beirada da cama - Isto é pra você. - Ele passou uma caixinha de veludo pra ela.


Quando Karina abriu, ficou estuperfada. Era uma pulseira, uma pulseira que media dois dedos. Diamantes. Toda ela, cavada de diamantes. Por mil diabos, Pedro não quase espancou ela na noite anterior?

Karina: P-porque? - Perguntou quando recuperou a voz, tocando a pulseira levemente.


Pedro: Lhe disse no dia do nosso casamento. Quando for inteligente, será tratada como uma rainha. Caso contrário, receberá problemas. - Ele explicou, calmamente


Karina: Eu não entendo. - Ela negou enquanto olhava o verde dos olhos do marido. - Fui inteligente?


Pedro: Foi. - Ele pegou a caixinha da mão dela - Não se pode fugir de mim. Nunca. - Karina congelou, e ele sorriu, frio. - Seu irmão tem ideias muito libertinas para uma mulher casada. - Comentou enquanto observava a joia

Karina: Duca. - Sussurrou pra si mesma - Pedro, ele não fez por mal, ele só é espontâneo, é o jeito dele, eu não... - Pedro a interrompeu, pondo dois dedos em seu lábios. Karina estava desesperada. Tinha medo por Duca.

Pedro: Shiii...calma, ma petit. Eu não fiz nem vou fazer nada. Seu irmão poderá vir te visitar sempre que quiser. Nada vai mudar. - Ele disse, sorrindo enquanto soltava a pulseira da caixinha


Karina: Sério? - Contestou, ainda sem acreditar.


Pedro: Sério. Minha esposa é uma mulher inteligente. Não se deixa levar por ideias alheias. - Ele pegou o pulso dela - Agradeça por isso, petit. Caso contrário seu irmão estaria em maus lençóis agora. - Ele colocou a pulseira nela, fechando-a com rapidez - Não pense em fugir de mim, Karina. Não considere essa ideia. Será pior pra todos. - Ele avisou, erguendo os olhos pra encara-la - Te espero lá em baixo. - Ele deu um leve beijo na mão dela e saiu, deixando uma Karina estupefata.



Musica da Cena: My All - Mariah Carey



AnnaBeth e Samila

sexta-feira, 19 de junho de 2015

10

  
Os dias foram voando mansão a fora. Bianca e João eram inseparáveis. Karina e Pedro se tratavam como cão e gato. Ela não deixou mais ele tocar nela desde o dia do banheiro, mas suspeitava de que ele só não tocou porque não quis. Mas agora ela tinha o seu chalé, e tinha Cobra. Isso era uma melhoria insuperável.

Cobra: De novo aqui? - Perguntou, entrando no chalé. A voz de Cobra enriquecia o sangue de Karina, e ela sorriu, involuntariamente0.


Karina: Pros momentos que se quer sumir. - Sorriu, sentada na poltrona


Cobra: O que você tava fazendo? - Perguntou, fechando a porta


Karina: Nada, só descansando. - Sorriu - E você?


Cobra: Tô de saida. Vou a Port Angeles, preciso autenticar uns papéis, só devo voltar a noite. - Karina se entristeceu, como se um pedaço do seu coração tivesse sido roubado - Ei, não fique assim. - Ele se ajoelhou do lado dela - Você tem o nosso cantinho feliz. - Ela sorriu, e ele lhe beijou a testa, antes de sair.


Karina ficou sentada por um bom tempo. Depois, se levantou. Estava cansada de ficar sem fazer nada. Mas o que se tinha pra fazer ali? Ela olhou em volta, e viu a estante de livros. Foi até lá, e começou a separar uns. Parou ao ver um sobre vampiros. Nunca tinha lido sobre esse tema. Pegou o livro, e voltou a se sentar. O livro falava da possível existência real de vampiros, e suas características. Karina congelou lendo. Parecia tanto com... Ela se levantou as pressas, pegando um papel e uma caneta na estante. Fez uma lista das características que o livro citava: Não sair a luz do sol, frieza da pele, nunca comer, nunca dormir, palidez, força, rapidez. Um coração que não batia. Ela riscou a frieza da pele, nunca comer e nunca dormir. Mas nunca havia visto Pedro na luz do sol.


Karina: Um coração que não batia. - Ela olhou pra frente - Pelo amor de Deus. - Ela passou a mão no rosto, apavorada. E se Pedro fosse um...vampiro?

Karina passou um bom tempo pesquisando nos livros de Cobra, mas não encontrou muita coisa. Por fim, dobrou sua lista e guardou-a no decote. O chalé era muito longe, e ela caminhou todo o percurso pensando em sua vida. Pedro, o amor e o ódio que ele cultivava nela. Cobra... por Deus, o que ela estava sentindo por Cobra? Ela era casada. Ele era seu cunhado. O sol estava se pondo quando alcançou a mansão. Tomou um banho e se vestiu. Resolveu esperar Cobra. Horas se passaram, a noite matou o dia, e nem sinal do garanhão preto e do seu montador. Rosa alertou Karina de que Pedro a estava chamando pra jantar, mas Karina não foi. Só sairia dali quando ele voltasse.

Pedro: Não ouviu quando eu mandei te chamar? - Perguntou indo furioso ao encontro de Karina, que estava sentada em um banco do jardim.


Karina: Ouvi. E disse que logo iria. Assim que Cobra voltasse. - Respondeu, sem dar atenção, mexendo distraída na aliança. Seu vestido era vermelho vinho, com um decote médio.


Falar bobagem só piora as coisas
Eu estou me acostumando com o que você disse
Não, isto não é imaginação minha
Eu não posso fazer milagres o tempo todo


Pedro: Assim que Cobra voltasse. - Repetiu - Pois quando eu te chamar, largue o que você estiver fazendo e me atenda. - Ele puxou ela com força pelo braço. Karina, com um gemido de surpresa e dor, se levantou


Karina: Está me machucando. - Disse entre os dentes, sentindo a dor forte no braço


Pedro: Eu não gosto de esperar, Karina. Eu já esperei demais. - Disse, encarando-a, raivoso


Porque não conversamos sobre isso?
Por que você sempre duvida de que possa existir uma
saída melhor?
Isso não me faz querer ficar?


Karina: Não sou sua criada. Não é justo, Pedro! Eu não te fiz nada, e a única coisa que você me dá é frieza, crueldade! - Ela jogou pra fora, sentindo o peso que saia de suas costas. A expressão de Pedro continuava colérica. - Eu vou ficar e esperar por Cobra. Me solte. - Pediu, fria.

Pedro: Você e Cobra são iguais. - Ele disse, a fúria escapando de sua voz - Duas crianças se queixando de como a vida é injusta com vocês. Sempre se lamentando, sempre se lastimando. A alegria de vocês é fútil, Karina. Deixa eu te avisar, a vida não é justa. - Karina sentiu os olhos encherem de agua - Isso, chora. - Ele sacudiu ela pelos dois braços, parecia fascinado com a dor da mulher - Se desmancha em lágrimas. É o que se pode esperar de uma menina boba como você. - Disse, duro

Por que a gente não termina de uma vez?
Não há mais nada pra dizer
Estou de olhos fechados
Rezando pra que eles não espiem. ♫


Karina: Me larga. - Disse puxando o braço. As duas lágrimas que inundaram seu olhar caíram, cada uma no canto do olho. Pedro só fez apertar a mão. Seus olhos brilhavam com um sentimento malévolo - Vai quebrar o meu braço. - Rosnou, magoada e ferida


Pedro puxou Karina com força, fazendo-a cambalear, e arrastou pela escadaria da mansão. Ela tropeçou duas vezes, mas ele continuou arrastando-a pelo braço até ela se equilibrar. Entraram em casa, passando direto pela sala de jantar. Bianca estava lá com João e TomTom. Dessa vez Bianca e João se sentavam juntos em um lado da mesa, TomTom do outro lado, Pedro em uma ponta e Karina na outra. Bianca arregalou os olhos ao ver Karina quase sendo arrastada pelo braço, o rosto vermelho pelas lágrimas que não deixava cair. Pedro jogou Karina na cadeira, que virou com tudo pelo lado, mas ele a segurou com força pelo ombro, não deixando-a cair e forçando-a a ficar quieta. Karina sabia que não adiantava lutar. Os empregados serviram o jantar, mas ela não tocou na comida. Se ele queria briga, eles brigariam.


Nós não sentimos mais atração pelo outro
E hoje em dia é isso que importa
Eu quero que você desapareça ♫

Pedro: Coma. - Ordenou, duro

Karina: Não tenho fome. - Continuou na mesma posição, encarando-o. Seus braços tinham grandes marcas roxas.


Karina: Karina, eu estou mandando você comer. É uma ordem. - Disse, o ódio retornando a sua voz


Karina: EU JÁ DISSE QUE NÃO TENHO FOME! - Gritou, puxando os seus pratos e talheres de uma vez, jogando-os no chão com fúria, quebrando a porcelana em pedacinhos, deixando o chão, antigamente lustrado, todo sujo.


Pedro partiu furioso pra cima de Karina. Iria mata-la, ela sabia. Morrer não devia ser tão ruim quanto viver aquilo. Mas João interferiu. Se levantou de uma vez e segurou o irmão. Bianca se levantou rapidamente, saindo do caminho e levando uma TomTom assustada. Karina continuou imóvel em seu lugar, com toda a dignidade que tinha, encarando o marido. João era muito forte comparado a ela, Se ele não estava conseguindo segurar Pedro direito, ninguém mais conseguiria. Isso só aumentou a raiva de Karina.


Karina: Agora, com sua licença, senhor meu marido. - Disse quase gritando e se levantou, derrubando a cadeira e jogando o guardanapo com força na mesa, antes de sair com passos pesados da sala. Pedro parou de se debater, olhando a mulher passar majestosamente pela sala e sumir depois da porta.

Na sala reinou um silêncio esmagador. Mas o pensamento de Karina estava longe enquanto ela olhava o jardim pela janela do seu quarto. Onde estava Cobra? Porque não voltou? "Duas crianças reclamando de como a vida é injusta com vocês." Por mais que lutasse, esses pensamentos lhe sufocavam. Ela virou o rosto com desgosto e foi tomar um banho, com a esperança de que a agua fria lhe despertasse desse pesadelo.

João: Ela não é a Vicki, Pedro. Ela não tem culpa, por Deus. - Murmurou, depois que Karina saiu da sala, ainda segurando o irmão


Pedro: Se não parecesse tanto. - Ele disse, e agora parecia sofrer - Maldição. - Passou a mão pelo cabelo quando João o soltou.

 -


Pedro: Nunca mais deixe me atender, ou grite a mesa, estou sendo claro, Karina? - Disse num tom que era mais ameaçador do que qualquer outra coisa

Pedro entrou no quarto. Karina estava vestida com uma camisola de seda preta sob um hobbie também negro, que chegava ao chão, parada perto da janela. Ela apenas balançou a cabeça, como se ele não merecesse sua atenção.


Pedro: Ele não vai voltar. - Disse, perverso - Você pode passar a noite inteira de pé ai, ele não vai aparecer. - Sorriu, cruel.


Karina: E o que você tem a ver com isso? - Murmurou, perdida, enquanto olhava a longa estrada da fazenda, deserta. Ouviu o riso de Pedro trovejar atrás de si, mas não deu atenção.


Karina ficou até de madrugada olhando pela janela. Por fim, constatou que Pedro estava certo, Cobra não voltaria, não hoje. Tirou o hobbie e colocou-o perto da cama, junto com o roupão de Pedro. Deitou-se em seu lado, cobrindo-se e se aquietando. Estava perdida em torpor quando lembrou de uma coisa. Vampiro. Ela se endureceu na cama, virando-se pra olhar o marido. Ele dormia tranquilamente, uma expressão serena no rosto. Ele pode estar fingindo. disse a si mesma. Tirou uma mão lentamente de debaixo da coberta, e passou na frente dos olhos dele, fazendo movimento bruscos, mas ele continuava adormecido. Ela tocou no pulso dele, afim de sentir a pulsação do sangue, mas foi interrompida antes de conseguir sentir algo.


Pedro: Que diabos você pensa que tá fazendo? - Murmurou, rouco pelo sono, mas o verde de seus olhos já estava completamente atento, encarando-a.


Karina: Ai! - Ela se afastou, assustada - Nada, nada não, boa noite. - Disse depressa e se deitou de costas pra ele, bem afastada. Pedro franziu a sobrancelha, mas sorriu e voltou a fechar os olhos.





AnnaBeth e Samila

segunda-feira, 15 de junho de 2015

9


Os dias foram passando, lento e normalmente. Karina e Pedro brigavam constantemente. Karina resolvera canalizar sua dor em outro sentimento: Raiva. Cobra virara vicio pra Karina, passava horas com ele. Bianca e João estavam a cada dia mais ligados.

Cobra: Uma flor pelos seus pensamentos. - Puxou uma flor de um arranjo da sala e pôs na frente de Karina


Karina: Ahn? Ah, não é nada. - Sorriu. Cobra virou a cara e levou a rosa consigo.


Cobra: Não quer conversar? - Ele se sentou perto dela. - Sabe que pode confiar em mim. - Ele pegou a mão dela.


Como sempre, o toque de Cobra era frio como gelo. Mas isso não impediu Karina de aquecer pelo toque com a pele dele.


Karina: Tudo bem, meu casamento é uma farsa. - Ela suspirou - Pedro não me suporta. Você deve ouvir as nossas brigas.


Cobra: Bom, eu não quero piorar seu humor, mas creio que Seattle inteira ouça as brigas de vocês. - Karina riu


Karina: Eu não sei mais o que fazer. - Ela sorriu, triste - Tem horas que eu tenho vontade de desaparecer.


Cobra: ROSA! - Berrou, assustando Karina. A voz de Cobra era forte, ela se arrepiou, involuntariamente.


Rosa: Sim, senhor? - Perguntou, aparecendo na sala


Cobra: Mande selarem o meu cavalo, preciso dele. - Rosa assentiu e saiu - Bom, quanto ao que fazer, eu não posso ajudar. Mas em relação a sumir, eu creio que sei de alguma coisa.


Karina: De que?


Cobra: Vem. - Ele levantou e puxou ela pela mão, levando-a pra fora da casa.

Cobra levou Karina até a frente da mansão, onde o cavalo negro dele esperava os dois. Cobra levantou Karina com a maior facilidade sentada de lado no cavalo, e montou atrás dela.

Cobra: É melhor se segurar. - Avisou, divertido


Karina: Estou morrendo de medo de você. - Revirou os olhos


Quando ela disse isso Cobra riu. Ela achou que estivesse voando, perante a velocidade que o cavalo tomou. Os jardins passavam por eles rapidamente, sem muitos detalhes. Quando Karina já estava se acostumando com isso, Cobra parou na frente de uma casa. Na verdade era a ruína de uma casa, pequena, rodeada de plantas até a altura do Joãolho, a pintura velha, descascada. Karina não conhecia essa parte da propriedade, era longe demais da mansão.


Karina: Porque me trouxe aqui? - Perguntou confusa, ao ver Cobra descer do cavalo


Cobra: Calma, Jake.  - Ele alisou o cavalo - Não está vendo? - Ele apontou pra casa


Karina: O que é isso?


Cobra riu e puxou Karina do cavalo. Ambos foram até a porta da casinha. Cobra tirou uma chave do colar que usava, e abriu a porta. Abriu com facilidade, pra a degradação que aquele lugar estava. Karina se maravilhou ao ver o interior. Se ela não tivesse visto a casinha por fora, não acreditaria que era velha. O interior era todo em madeira nova, tinha uma poltrona, uma lareira pequena, uma cama média, uma prateleira com livros, e um tocador de disco. Era completamente aconchegante.


Cobra: Pros momentos que se quer sumir. - Ele olhou em volta - Não é grande coisa, porém, ninguém sabe da existência desse lugar, só nós dois. - Ele tirou a corrente - É sua.


Karina: Que? - Ela olhou a chave que ele lhe dava - Não, não precisa Cobra, sério. - Ela sorriu, atônita


Cobra: Você precisa mais que eu. É bom pra ter paz. - Ele pegou a mão dela e pôs a chave - Quando eu precisar, você me empresta. - Ele sorriu e piscou pra ela


Karina sorriu, olhando em volta. Aquele lugar era tudo o que precisava.

Karina: É perfeito. - Disse após algum tempo, caminhando pelo pequeno chalé. Cobra sorria pra ela. - Ah, obrigada! - Ela se atirou nele, abraçando-o com força

Abraçar Cobra era como abraçar uma estátua de pedra, mas Karina adorava assim. Cobra abraçou-a de volta e lhe beijou o cabelo, ainda sorrindo. Os dois ficaram no chalé por um bom tempo. Cobra tirou um bule, uma enorme jarra de leite e uma pedra média de chocolate de uma banqueta perto da lareira. Ele acendeu o fogo enquanto Karina partia o chocolate e colocava no leite. Depois, conversaram, riram. Aquele lugar era um sonho, fazia ela esquecer de tudo o que vivia.


Karina: Seu cavalo não gosta de mim. - Falou olhando o enorme cavalo preto, que não tava nem ai pra ela.


Cobra: Jake. - O cavalo olhou - Cumprimente a Ka. - O cavalo, como se entendesse, encostou em Karina, passando o focinho de leve por sua mão, ela riu.


Cobra colocou Karina no cavalo e montou atrás dela. Eles voltaram mais devagar do que na ida, conversando, observando o sol se por. Karina se sentia plena ali, nos braços dele.


Pedro: Cobra está próximo demais da Karina. - Disse olhando pela janela do segundo andar, vendo Cobra e Karina se aproximarem, galopando no cavalo


João: Eles são só amigos, é impressão sua. - Disse, distraído com os papéis.


Pedro: Eu não costumo me enganar. - Disse com a expressão dura, quando Karina gargalhou enquanto Cobra parava o cavalo na frente da mansão - Mas dessa vez, pela integridade dessa familia, é bom que eu esteja. - Ele virou o rosto com desgosto e saiu da janela.

O jantar daquele dia foi como todos os outros. Karina estava mais alegre, mas Bianca parecia ansiosa. Assim que todos seguiram pros seus quartos, Bianca chamou João.

Bianca: João. - João olhou pra ela, terminando de desabotoar o colete - Vem aqui comigo. - Ela bateu na cama do lado dela. João sorriu e foi.


João: O que você tem? - Ele perguntou, antes de beijar a mão dela - Passou o dia todo nervosa, alerta. Aconteceu alguma coisa?


Bianca: Ah, eu estou nervosa sim. - Ela se balançou na cama, João riu - Não ri, João. - Fez bico.


João: Tudo bem, não rio. - Ele selou os lábios com os dela, desfazendo o bico - Diga-me, quem mexeu contigo? - Ele alisou a mão dela, enlaçando os dedos.


Bianca: Eu não sei como falar. - Ela estava atônita quando trouxe a mão dele, colocando-a em cima do ventre - João, tem alguém aqui. - Ela apertou a mão dele em cima da barriga


João: Não tô entendendo, Bi.. - Ele alisou a barriga dela


Bianca: Um bebê, João Aqui dentro. - Ela sentiu João empedrar, encarando-a. - João? - Ele não se mexeu - Deus do céu, João, fala alguma coisa! - Ela alisou o rosto dele.


Naquela noite, metade de Seattle jurava ter ouvido o grito de João (VOCÊ TÁ GRÁVIDA?). TomTom, já adormecida, despertou. Cobra, que lia em seu quarto, ergueu o rosto olhando pra porta. Pedro e Karina, que estavam prestes a começar outra briga, pararam.


Bianca: É, eu tô. - Ela estava pálida feito papel - João, eu juro que não foi de propósito, mas eu... - Não terminou. João beijou ela com desespero, e ela tombou na cama. - Você gostou? - Ela sorriu, sentindo o alivio lhe invadir


João: Eu te amo. - Os olhos dele estavam cheios de agua - Ninguém no mundo amou alguém tanto quanto eu amo você. - Bianca sorriu, o alivio e a felicidade lhe sufocando, e sentiu ele lhe carregando.


Bianca: Espera, João ' - Mas ele já tinha carregado ela - João, o que você...

João: ACOOOOOOOOOOOOOOORDA TODO MUNDO! - Gritou passando pelo corredor, com Bianca jogada nos ombros. Ela ria e batia nas costas dele

Karina: Bianca? 


Cobra: João, o que houve? - Perguntou aparecendo na porta de seu quarto


João: EU VOU SER PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHAAAAAAAAAAI! - Ele se jogou abraçando Pedro, que cambaleou pra trás. Karina riu.


TomTom: O que eu perdi? - Perguntou, sonolenta. Cobra riu e carregou ela


Pedro: João, se controle. - Ele tentou se soltar do irmão. Bianca se segurava, quase caindo. Karina tinha certeza de que Pedro estava prendendo o riso.


João: Nós vamos sair pra comemorar! - João tinha um sorriso enorme no rosto, os olhos cheios d'agua, a testa soada. Ele jogou Bianca pra cima, colocando-a no lugar. Bianca gritou.


Bianca: João, pare com isso! - Ela bateu nas costas dele, mas ele virou o rosto e mordeu a coxa dela de leve, por cima do vestido, rindo - Não podemos sair, é muito tarde. - Ela disse, de cabeça pra baixo, se apoiando nas costas dele.


João: Pro diabo com o horário. - Disse rindo, saindo com ela no corredor. Todo mundo foi atrás

Pedro: Não tem mais lugar nenhum aberto. - Avisou, ainda com a expressão de quem queria rir.


João: Pois pagamos pra que abra. - Ele virou pra olhar Pedro. O cabelo de Bianca esvoaçou no ar, ela soltou um gritinho


Cobra: Fazemos um brinde hoje, e amanhã comemoramos adequadamente, satisfeito? - Disse, sorrindo pela felicidade do irmão.


João parecia uma criança que ganhara o brinquedo com que sonhara a vida inteira. Assentiu, feliz, e girou de novo. O cabelo de Bianca esvoaçou de novo, e ela bateu nele. Dessa vez nem Pedro conteve o riso. Todos desceram, e brindaram a chegada do herdeiro com vinho, TomTom com suco. Karina olhou pra Pedro. Ele parecia alegre, mas ela sabia que se um dia ela viesse a avisar que estaria grávida, ele não ficaria alegre, nem comemoraria, como João. Ela sacodiu o rosto, afastando os pensamentos, e foi pro lado de Cobra, que sorriu, abraçando ela pelo ombro. 



AnnaBeth e Samila

quinta-feira, 11 de junho de 2015

8

Cobra preparou o chocolate quente pra Karina, e os dois estavam conversando distraidamente na sala, quando ouviram os gritos vindos da sala.

Pedro: EU MANDEI DERRUBAREM AQUELA ARVORE UMAS DEZ VEZES, MAS PRECISAVAM  ESPERAR ISSO ACONTECER. - Rugiu entrando em casa, pingando agua, com um João não muito diferente atrás dele - Que diabo você está fazendo aqui? - Perguntou, grosso, a Karina


Mas antes que Karina respondesse, Cobra respondeu.


Cobra: Ela está comigo, algum problema? - Perguntou, e o topázio em seus olhos era sólido.


Pedro: Não estou com paciência para você agora. - Disse, duro, e João o chamou, indo pro escritório dos dois, deixando um rastro de agua por onde passavam


Karina: Não precisava. - Sorriu, gentilmente.


Cobra: Eu passei por isso a minha vida toda, não é incomodo nenhum. - Sorriu, descontraído como antes.


Karina acordou com o corpo doido no dia seguinte. Dormiu muito pouco. Pedro já não estava lá. Ela se banhou, pôs um vestido verde claro, comeu alguma coisa, e pôs-se a passear no jardim. Era um jardim bonito, apesar dos pesares. O dia estava frio, mas não chovia. Estava detraída quando ouviu o galope de um cavalo perto de si. Virou-se pra olhar, e então ela não sabia mais quem era. Cobra vinha montado num garanhão preto, galopando próximo a mansão. Ele sorriu ao ver Karina. Entregou o cavalo a um empregado e foi até ela.

Karina: Pensei que você tivesse ido com Pedro e João. - Sorriu


Cobra: Eu cuido da parte burocrática dos negócios, papéis. Os donos da verdade se encarregam do resto. - Karina riu


Karina: Vocês são tão diferentes. - Ela franziu a sobrancelha, enquanto continuava a andar. Cobra a acompanhou. - Nem dá pra perceber que são irmãos.


Cobra: Meu pai era um canalha. - Karina não segurou o riso - É sério - Ele sorriu - Cada um de nós somos filhos de pessoas diferentes. João por, Dandara, Pedro e Tomtom por Delma, e eu por Elisabeth. - Ele deu um sorriso torto, e Karina não tinha mais problemas.

Karina: Agora dá pra entender. - Sorriu

Cobra: A única coisa que temos dele são os traços. - Karina sorriu - Pedro e João herdaram o gênio dele. Mas eu não me interesso tanto, Tomtom também não.


Karina: E a sua mulher? Jade, o nome, não é? - Perguntou, sendo educada.


Cobra: Jade. - Sorriu - Ficou na França, com a mãe dela. Creio que... - Ele parecia estar fazendo cálculos na cabeça - Bom, creio que um dia ela venha pra cá. - Sorriu abertamente


Karina: Você tem filhos?


Cobra: Não, ainda não. Se tivesse, não os deixaria. - A tristeza alcançou Karina de novo, Cobra percebeu - E você? - Perguntou, excessivamente curioso


Karina: AAAAAAAAH, claro, tenho um, chama Cobra. - Cobra riu.


E então Karina estava rindo de novo. Era incrível o poder que Cobra tinha de acalma-la. Ao lado dele, o inferno parecia o céu. Ao contrário de Pedro, que era difícil como parir um filho, Cobra era fácil como respirar. Os dois continuaram andando pelos jardins, conversando, rindo, sentindo o vento frio engolfá-los. Pareciam mais um casal feliz, do que cunhados.

Era quase meio dia quando K&C voltaram pra casa. Karina estava cansada. Quando chegaram na escadaria da mansão, Cobra carregou ela, que gritou, surpresa, mas depois riu, balançando as pernas. Ao entrarem em casa encontraram Tomtom na sala. A menina, vendo Karina no colo do irmão, riu e foi até eles, animada. Cobra pôs Ka no chão, fingindo estar todo quebrado. Ela deu um tapinha nele, mas continuou a rir. Resolveu ir tomar um banho antes do almoço, estava soada.

Você diz que estamos destinados a falhar
Bem, eu fico entediado facilmente
Tudo bem? ♫


Pedro: Posso saber onde você estava? - Perguntou, sério, quando ela, ainda sorrindo, entrou no quarto.


Karina: Deus, que susto. - Pôs a mão no peito - Estava caminhando com Cobra. - Respondeu simples, rumando o banheiro.


Pedro: Porque? - Perguntou indo atrás dela. Quando entrou no banheiro, Karina já havia tirado os sapatos, e estava prendendo o cabelo


Karina: Porque eu estava entediada. - Respondeu sem dar atenção.


Pedro: Não saia mais sem me avisar. - Pediu, frio.


Risque meu nome do seu caderninho
Faça deste o nosso último beijo
Eu vou embora ♫


Karina: Desculpe? - Ela franziu a sobrancelha, se virando pra ele, enquanto desamarrava o vestido - Agora vou ter que te dar satisfação se resolver ir lá fora?


Pedro: Me deixa atordoado não saber onde você está. - Disse, duro. Karina se perdeu. Ela devia considerar isso um ponto positivo? Não, o olhar dele era frio, era só obsessão.


Karina: Me poupe. - Disse sem paciência, terminando de tirar o cordão do vestido. Tirou o mesmo, ficando apenas com a roupa de baixo. Pôs o vestido numa bancada, e abriu o chuveiro, checando a agua.


Foi quando ela sentiu as mãos de Pedro puxando-a. Ela se desequilibrou, entrando no box, debaixo da agua. Antes que pudesse reclamar, os lábios dele se encontraram com os dela, e mais uma vez tudo tinha se perdido. Ela nem reclamou, apenas o beijou. Queria tanto que isso pudesse acontecer normalmente, sem brigas depois. Enlaçou os braços no pescoço dele, sentindo ele entrar debaixo d'agua junto com ela.


Por que não conversamos sobre isso?
Eu estou bem aqui, não precisa gritar
Com o tempo a gente esquece
Vamos fingir que nunca nos conhecemos ♫


Karina: Não... - Ela resetou ao sentir ele desamarrar a sua roupa debaixo. Estava se sentindo fraca, não sabia se era por causa da agua, ou por ele.


Pedro: Sim. - Ele terminou de desamarrar a roupa dela e se afastou pra tirar a camisa e o sapato.


Pedro prensou Karina contra a parede e instigou-a de todos os modos possíveis. Ela sentia o corpo queimar, inflamar. Pra ele também não estava sendo fácil. Ambos respiravam com a boca. Karina estava longe até que sentiu as mãos dele adentrando por seu cabelo molhado, e em seguida puxando-o com um pouco de pressão.


Por que a gente não termina de uma vez?
Não há mais nada a ser dito ♫


Pedro: Prometa que vai avisar. - Brincou, com um sorriso perverso no rosto


Karina: Estúpido! - Disse com raiva, estapeando ele.


Pedro riu, uma das poucas vezes que ria sinceramente. Segurou as mãos de Karina, e a beijou de novo. Era tão perfeito sem aquela mascara fria. Os minutos se passaram, e parecia que a agua iria evaporar dentro do box, perante a temperatura que ali estava. Karina acordou ao sentir Pedro lhe puxar pra cima, enlaçando as pernas dela em sua cintura.


Karina: Devagar. - Pediu, um pouco temerosa


Pedro: Confie em mim, não vou te machucar. - Disse, rouco. Então ela sentiu ele começar a lhe invadir.

Estou de olhos fechados
Rezando pra que eles não espiem
Nós não sentimos mais atração pelo outro
E hoje em dia é isso que importa
Eu quero que você desapareça. ♫


Pedro sentiu as unhas de Karina se cravarem em suas costas, cada vez com mais força, a medida em que ele ia possuindo-a. Por fim, ele a muito custo, brigando com seu instinto, ficou quieto, dando tempo pra ela se acostumar. Karina tinha o rosto enterrado no ombro dele, as sobrancelhas franzidas. As lembranças da noite da sala não eram nada comparado a isso. Agora não doia, mas lhe dava prazer, um prazer tão que chegava a dar agonia. Ela suspirou fundo quando sentiu Pedro começar a se mover.



Vá pro inferno
Eu não gostava do seu gosto mesmo
De qualquer maneira, eu havia escolhido você
E agora tudo se foi ♫

Tempos depois, a visão de Karina escureceu, e seu corpo foi levado por uma sensação boa, chegava a ser anestésica. Pedro deu um sorriso de canto ao ve-la desfalecer. Pouco tempo depois foi a vez dele, que deixou escapar um pequeno gemido, antes de deixar o rosto descansar no dela. Karina já havia se recuperado, agora olhava pra frente, os pensamentos longe.

Pedro: Termine o seu banho. Eu vou estar lá em baixo. - Ele disse, sem expressão no rosto, um tempo depois, se enrolando em uma toalha e saindo do box, em seguida do banheiro.

Hoje é sábado:
Eu vou sair
E encontrar
outra como você ♫

Karina observou o marido sair do banheiro. Uma dor sufocante lhe engoliu, e ela encostou a cabeça no azulejo do banheiro, enquanto as lágrimas começavam a brotar. O que ela fizera pra merecer isso? 







Créditos: AnnaBeth e Samila

segunda-feira, 8 de junho de 2015

7

Logos todos se recolheram. Karina e Pedro foram dormir sem falar um com o outro. De madrugada caiu uma tempestade, com raios, trovões, e muito vento. Karina acordou assustada com um raio. Ao erguer a cabeça, viu que mais uma vez estava abraçada a Pedro, que dormia. O quarto era iluminado por dois abajures, um de cada lado da cama. Ela colocou um cotovelo na cama, se apoiando no braço, pra encarar o marido. Parecia tão humano quando dormia. Era surreal. Um bom tempo depois, involuntariamente, passou a costa das mãos pelo rosto dele. Era macio, agradável. Um sentimento que ela vinha refreando a muito tempo lhe açoitou dentro do peito. Como podia ter se apaixonado por aquele homem? As lágrimas desceram por seu rosto, descontroladas, enquanto ela acariciava o rosto dele.

Loose lips sunk ships
I'm getting to grips with what you said
No it's not in my head
I can't awaken the dead day after day ♫


Pedro: Porque você está chorando? - Perguntou, ainda de olhos fechados, a voz rouca pelo sono, alguns minutos depois. Karina já chorava descontroladamente, porém, em silêncio.

Karina: Não é nada. - Ela se afastou dele, mas sua voz embargada era uma ótima delatora. Ela sentou na cama, e ia rapidamente levantando, quando sentiu a mão forte dele.

Pedro: Ninguém tem uma crise de choro no meio da noite por nada. - Ele continuou segurando-a, firme, sentado na cama. Karina soluçou no choro. - Me diga, o que houve?

Why don't we talk about it?
Why do you always doubt that there can be a better way?
It doesn't make me wanna stay ♫

Karina: Pedro, porque você me trata assim? O que eu fiz pra você? - Ela virou o rosto lavado de lágrimas pra ele.

Pedro: Eu te trato do meu jeito. Eu sou assim. - Ele respondeu frio.

Karina: Não é. - A voz dela falhou, enquanto mais lágrimas desciam - Você não é assim. Essa é só a mascara que você usa pra todo mundo. - Ela passou a mão no rosto de Pedro, mas o rosto dele não era mais macio. Era duro, e frio. - Mas, Cristo, eu sou sua mulher. Você não precisa ser assim, pelo menos não comigo.

Why don't we break up?
There's nothing left to say
I've got my eyes shut
Praying they won't stray ♫


Pedro: Era por isso que você estava chorando? - Ele perguntou, duro, afastando a mão dela.

Karina: Tava chorando porque quero que o meu casamento dê certo. - Ela disse, agora contendo as lágrimas. Não queria parecer uma menina imatura - Pedro, vamos tentar. Veja Cobra, o amor dele por Jade é tão grande que sobrevive a distância. - Pedro a encarava, a maxilar trancada - João e Bianca se dão absurdamente bem. Nós podemos ser assim também. Eu sei que tem alguém aqui dentro, - Ela tocou o peito dele, Pedro se rosetou - E esse alguém é capaz de me fazer feliz, nunca de me tratar como uma estranha.

Pedro: O que você quer que eu faça? Que eu cerque você, fique te olhando com os olhos brilhando como se estivesse doente, 24 horas por dia, tal como João? - Ele perguntou debochado. Karina se levantou e ia rumando ao banheiro, totalmente deprimida, quando a voz dele lhe alcançou de novo - Ou prefere que eu te mande pra França, pra poder dizer que eu sou capaz de superar a distância? - Ele sorriu malévolo.

And we're not sexed up
That's what makes the difference today
I hope you blow away ♫


Karina: Eu só quero poder dizer que te amo, sem me sentir uma idiota por fazer isso. - Ela disse com a voz cansada, se virando pra ele.

Por um momento, a máscara de Pedro caiu. Ele parecia não saber o que dizer. Um fio de esperança brotou no coração de Karina. Talvez estivesse dando certo.

Pedro: Você está se sentindo uma idiota, agora? - Ele perguntou, ainda sem aquela expressão fria, se levantando e indo até ela. Karina recuou involuntariamente, a camisola branca ralando no chão.

You say we're fatally flawed
Well I'm easily bored, is that ok?
Write me off your list
Make this the last kiss, I'll walk away ♫


Pedro: Responde, petit. - Ele pressionou, encarando ela

Karina: Eu tô me sentindo uma completa idiota, Pedro, feliz? - Ela o encarou. Já não chorava. - Pode ser diferente, vamos tentar. - Ela se aproximou dele, e hesitante, puseram as duas mãos no peito dele.

O coração de Karina estava em altos pulos, parecia que ia sair do peito. Pedro a encarava, inexpressivo, perdido. Seu coração também não estava como devia estar.

Vicki: Você realmente se importa com o que eles dizem? - Ela riu abertamente, aquele riso que fazia qualquer homem se perder - Pois eu só me importo que tu pensas. Pode ser diferente, vamos tentar. - Ela enlaçou as mãos no pescoço dele.

Pedro começou a rir, frio. Karina sentiu o pulmão trancar, o estomago apertando dolorosamente.

Karina: Do-do que você tá rindo? - Ela perguntou trêmula, soltando ele.

Why don't we talk about it?
I'm only here don't shout it
Given time we'll forget
Let's pretend we never met ♫


Mas Pedro continuou a rir. 
Era claro, ele estava rindo dela. Ela sentiu os olhos encherem de agua.

Karina: Não sei por que eu ainda tento. - Sussurrou, voltando a andar rapidamente pro banheiro.

Mas antes que ela alcançasse a porta, Pedro estava parado lá. Ele agarrou ela pelos braços, machucando-a, e a beijou. Era um beijo opressivo, Karina se debatia contra ele, mas ele era infinitamente mais forte. Ela se condenava por no fundo ser ali que ela queria estar, nos braços dele. Duas grossas lágrimas cairam rapidamente pelo seu rosto, enquanto ela sentia os lábios serem comprimidos furiosamente pelos dele.

Karina: Não, para! - Ela empurrou ele com mais força ao sentir os beijos descerem pelo pescoço dela, e as mãos dele descerem de seus braços pro quadril, comprimindo-a contra a cintura dele. - Pedro, eu não tô brincando, pra!

Pedro: Você não vai fazer isso ser tão difícil quanto da ultima vez, vai? - Ele encarou ela por um momento. Karina perdeu o fio da fala ao encontrar o olhar dele, o verde estava inflamado, quente. - Isso, quieta. - Ele sorriu, malévolo, enquanto puxava as alças da camisola dela pro lado. Quando os ombros dela ficaram descobertos, ele passou os lábios entreabertos por ali, sentindo Karina se arrepiar.

Karina: Eu vou gritar. - Rosnou, agora com raiva, voltando a empurrá-lo. Quem Pedro pensava que era?

Why don't we break up?
There's nothing left to say
I've got my eyes shut
Praying they won't stray


Pedro: Você acha realmente que alguém vai vir aqui? - Ele sorriu, enquanto suas mãos abriam o fecho da frente da camisola de Karina.

Karina: Cobra virá. - Ela disse, surpresa com a certeza que tinha disso. Pedro congelou por um momento, e ela parou de bater nele. Pedro ergueu os olhos pra ela, e ela o encarou por um momento.

And we're not sexed up
That's what makes the difference today
I hope you blow away ♫


Pedro afrouxou o aperto dos braços de Karina, ainda encarando-a. 
O olhar dele mostrava que ele a desejava. Como se tivessem combinado, Pedro avançou pra Karina e dessa vez ela correspondeu ao beijo. Enlaçou os braços no pescoço dele, enlaçando as mãos no cabelo curto do marido. Ambos ofegavam durante o beijo. Pedro puxou Karina pra cima, e ela enlaçou as pernas na cintura dele. Ainda aos beijos ele caminhou rapidamente com ela no colo, depositando-a de costas na cama, e deitando por cima dela. Seria muito melhor agora que ela tava cooperando. Pedro precisava dela, e não sabia porque.

Screw you, I didn't like your taste
Anyway, I chose you and that's all gone to waste
It's Saturday, I'll go out
And find another you ♫


Minutos se passaram. 
A chuva inundava tudo lá fora, mas a temperatura dentro do quarto era mais alta possivel. Karina e Pedro não pararam com os beijos nem por um minuto. Agora, Pedro tinha uma mão acariciando firmemente o seio esquerdo de Karina, por baixo da camisola. Ele estava deitado entre as pernas dela, e ela tinha uma das pernas dobradas, de modo que a pele descoberta dela alisava a cintura dele a cada movimento. Ele soltou a boca dela, terminando de abrir a parte da frente da camisola. Logo Karina ofegou, sentindo a mão dele ser substituída por sua boca. Pedro era bruto, mas Karina descobriu que gostava assim. Ela tinha as mãos dentro da camisa dele, arranhando-o de leve. Pedro passou a mão em sua cintura e fez pressão no quadril dela, fazendo-a sentir sua potente excitação. Sorriu ao ouvir o gemido surpreso dela. Os dois estavam completamente entregues, quando uma batida na porta os alertou.

João: Pedro. - Chamou, batendo na porta. Karina e Pedro pararam. Pedro xingou baixinho

Pedro: O que foi? - Perguntou, sem paciência

João: Um raio derrubou uma arvore no portão.

Pedro: Pro diabo com o portão, o que eu tenho a ver com isso? - Karina riu, sem se conter, da irritação do marido.

João: Você tem a ver com isso que o porteiro estava lá, e parece que ele se machucou. - Disse, impaciente

Pedro: Amanhã eu resolvo isso. - Disse de má vontade. Ele passou a mão pela nuca de Karina e a beijou de novo. Ela só sabia sorrir.

João: Francamente, eu também estava ocupado, se é que você entende. - Pedro parou o beijo, suspirando. Karina riu, pensando em como Bianca estaria agora. - Se isso pudesse ser resolvido amanhã, eu não estaria aqui. - Ele deu um murro na porta - VAMOS LOGO, PEDRO! - Rugiu, irritado.

Pedro: Inferno, João, porque não chamou Cobra?! - Grunhiu enquanto vestia o roupão. Karina agora estava completamente constrangida, fechando a camisola. - Sua boca está da cor de sangue. - Avisou, divertido. Karina ruborizou e se sentou na cama, de cabeça baixa. Viu o marido calçar os pés e abrir a porta, sumindo pelo corredor acompanhado por João.

Karina pôs uma mão na testa, cansada. Parecia que nem a natureza queria que seu casamento desse certo. Estava afogada em sua tristeza, quando ouviu uma batidinha na porta.

Cobra: Como você também foi acordada pela belezinha do João, eu estou indo tomar um chocolate quente na cozinha, aceita? - Sorriu da porta pra ela

Karina: Ahn? - Ela estava débil de novo. Ver Cobra de madrugada era algo que desestabilizava qualquer uma. - Ah, claro, quero sim. - Sorriu, se levantando.

Karina vestiu seu hobbie por cima da camisola, e alisou os braços.

Cobra: Não se assuste, isso acontece com frequência. - Sorriu pra ela. Ele vestia um roupão de veludo preto.

Karina: Não é nada, só o frio. - Sorriu de volta. Cobra era como um anestésico pra dor que ela sentia.

Quando ela passou por ele, ele lhe abraçou pelo ombro, e os dois rumaram pra cozinha. A pele dele continuava fria. Cobra tinha um perfume diferente, Karina não sabia descrever. Simplesmente o abraçou pela cintura, e continuou andando. 


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Créditos: AnnaBeth e Samila